sábado, 9 de maio de 2009

Noite de lua cheia. Avenida Paulista. Deixo sem pressa o grupo que se desfaz. Agora faço parte de uma dupla que cruza a avenida e monta guarda num café. Lá fora a vida passa em grupos compactos: circenses, roqueiros, torcedores de algum time que deve ter jogado à tarde.A dupla se divide. Eu, Diadorim revelada, afundo em direção ao centro da terra, tomo o metrô. Em alguns minutos novamente o ar livre em territórios de mistério: o Cemitério do Araçá onde devem estar remotos parentes. O último desafio antes da segurança – tomar o táxi. Ficar ali dentro quieta e ser levada em minutos para casa. Saboreio, nos segundos parada no meio fio, o poder de encerrar pela simples vontade (e algum dinheiro) um dia que parece relutante em terminar. Faço sinal e o táxi para.
Cardeal Arcoverde cheia e o taxista de meia idade com cara de jagunço (atende pelo gentil apelido de Baianinho) me explica que no mundo é preciso de gente de todo o tipo - bons, maus, senão o mundo não poderia SER.
E que eu aprenda:as pessoas só sabem mesmo ser como são! (ok, aprendi e agora está até anotado aqui).
Ele, por exemplo, se livrara de um assalto na noite anterior.
Que eu - uma moça bonita e decente - tomasse cuidado, com São Paulo prestes a ferver no fim de semana com não sei quantos bandidos usufruindo indulto de Dia das Mães.
E sabia eu como ele se livrara do assalto? Não? Invocando sua amizade com Lampião. Sim, Lampião, um cara lá de Osasco que foi policial, mas agora (veja bem) tem uma firma de segurança toda legalizada, mas que também, paralelamente, organiza e patrocina assaltos dos mais diversos tipos.E não contente com tanta atividade é também justiceiro - mata por encomenda gente que considera bandida (quem seria exatamente essa gente?).
Não resisto: "Mas ele faz tudo isso assim, ao mesmo tempo"?
(Sim, a resposta é sim, o Lampião de Osasco faz tudo isso ao mesmo tempo, agora, sem nenhum conflito).
Mas a vida é assim. Ele, Baianinho, só se defende e se dá bem com o tal de Lampião - que no seu passado de polícia foi inclusive subordinANTE do filho dele, o Maurício, que é oficial...
Há semanas Lampião levou uma rajada de metralhadora - mas usava um colete à prova de balas igual ao do Collor e só ficou sem as pontas das orelhas (inusitado, não?), mas vai fazer cirurgia reparadora logo (que bom, eu estava preocupada com o aspecto Van Gogh dupla face que ele deve ter agora).
O Riobaldo em mim interrompe, a perguntar se ele acha que compensa...
"O que, moça,o colete salva-vidas igual do Collor?Compensa sim."
Não, se ele acha que o Lampião gosta da vida que tem, se o crime compensa, etc...
"Olhe moça, não é gostar nem que compense, é que não se pode fugir daquilo que se é. Do que se sabe fazer. A gente simplesmente não sabe viver doutro modo, eu não sei, você não sabe e o Lampião também não".
(Ahh! Lembro da minha mãe a escrever sobre a vida de Santa Teresa d´Ávila: “Nessuno puó fugire dal suo destino”. Será?).
Baianinho prossegue e afasta Santa Teresa, o destino e a minha mãe: eu deveria fazer o mesmo e agradecer a Deus ser bonita, perfeita e sendo tal perfeição - porque eu era perfeita se não sabia - ter pena dos criminosos e desviados de todo tipo. Entender que o mundo é assim mesmo e ter piedade(ok, acho que posso fazer isso, não parece assim tão complicado).
Agora vem algo difícil: Baianinho olha pelo retrovisor. Ele vai dar uma lição em Diadorim. Alguns rodeios verbais – vou aconselhar... me desculpe... vou falar... vou ensinar... algo assim (atenção): quando se é bonita e simpática é possível arranjar um marido. Custa um pouco (ah, é?), não é imediatamente, mas se arranja com certeza (hum) e, então, pode-se ficar em casa sendo "bonita, simpática e mulher de alguém" (assim mesmo, com essas exatas palavras). Aí, não é preciso se cansar trabalhando, pois claro que nenhum marido deixa a simpática beldade fora das suas vistas (Nossa!).
A conversa acaba porque moro em Pinheiros – e o congestionamento é módico para uma sexta-feira à noite.Morasse no Butantã, fosse outro o dia e talvez descobrisse o sentido da vida.
Chego a casa e penso que adoraria retomar Grande Sertão, mas, por motivo de força maior, vou ter que ficar mesmo com o Mestre Gil, terminar o Auto da Alma (posso aproveitar para tentar salvar a minha, já que parece que tenho dificuldades em entender o mundo tal qual ele é, em sua real natureza).
Mas ninguém pode ser diferente do que é – agora Diadorim abandona Mestre Gil e reabre o Rosa...

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

"Português Suave"

Era uma marca de cigarros de Portugal nas décadas de 50, 60, 70, quando se fumava ainda mais do que hoje. Agora é título de um dos muitos romances que tenho visto e que tematizam Lisboa, seus arredores, a vida dos lisboetas de classe média e média-alta. Muitos romances, todos com o mesmo tipo de capa, evocadora de um passado "dourado". Que mistério a abundância deste tipo de publicação que, pelo jeito vende muito (invarialmente um selo aposto às capas informa a edição ou o número de exemplares vendidos). Fotografei algumas das capas.Na propaganda de "Português Suave", que vi num jornal quando estive em Portugal em junho passado, se dizia "o livro para o seu verão". Por curiosidade olhei as datas das primeiras edições de alguns deles - parte realmente coincide com o verão... E normalmente têm número de páginas que aponta para a possibilidade de durar uma estação...uns verdadeiros tijolos.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Encontro com Paulina Chiziane e Ondjaki - Violência e Literatura



A imagem é do encontro "Violência e Literatura", da noite de 05 de novembro, quando nos sentamos Paulina, Ondjaki e eu para uma conversa sobre a obra dos autores, sobre Moçambique, Angola e, claro, Violência e Literatura. Foi um dos pontos altos do encontro - que ocupou o Centro Cultural São Paulo por 4 dias de intensos debates.